No Brasil, aproximadamente 2 milhões de pessoas têm o
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Para a psicopedagoga
Dayse Serra, o processo de alfabetização e de educação das crianças
só funciona quando professores e pedagogos compreendem esse universo.
“Um dos primeiros desafios da criança com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é a escola.
Por causa de suas dificuldades na fala, ao transmitir emoções, de entendimento da linguagem
subliminar, de expressões faciais e até de mudanças de tom da voz, ela muitas vezes não
consegue compreender explicações da professora e as histórias de livros”, afirma a
psicopedagoga Dayse Serra, doutora em psicologia clínica e colaboradora da Neuro Saber.
Para a especialista, falta de habilidade de professores e pedagogos que não sabem
como se processa o pensamento de um autista dificulta muito a alfabetização,
tornando impossível que a criança desenvolva a capacidade de ler e entender o
mundo em sua volta.
“Muitas escolas têm outra linha de trabalho e o educador padroniza o ensino sem
pensar nesse estudantes, o que aumenta as chances de não dar certo. Para alfabetizar
e educar alguém com autismo, é necessário entender seu funcionamento, suas
alterações no que diz respeito à percepção do mundo, as sensações, os medos e
seu desempenho linguístico”, ressalta Dayse Serra.
Segundo a psicopedagoga, o modelo mais adequado para facilita o processo de alfabetização
é o fônico. “Esse método ensina primeiro os sons de cada letra e então constrói a mistura
desses sons em conjunto para a pronúncia completa da palavra. Por meio dele, pode-se
produzir a consciência fonológica e a criança consegue adquirir compreensão
do que ela está lendo”, diz.
Dayse Serra salienta que não basta somente entregar o livro ao aluno e esperar ele aprender
a ler. “Conforme o nível de autismo, o significado da leitura varia muito porque, geralmente,
o autista não consegue compreender o signo linguístico e não entende o que é uma
representação da comunicação. Mesmo aqueles que apresentam hiperlexia (leitura precoce),
é preciso saber que ler não significa compreender. Em muitos casos, a dificuldade na
interpretação de texto é alta porque a leitura é feita mecanicamente”.
A especialista defende o estímulo à imaginação do aluno, auxiliando a dar sentido à história.
“É fundamental que se aprenda a construir uma frase e um sentido. Deve-se sempre
perguntar sobre o que ele está entendendo. Uma pessoa que não faz inferência ou uma
dedução, não tira uma extração de significado”, completa Dayse Serra.