Parte 1 de 4:
Estratégias para melhorar a comunicação
1
Em primeiro lugar, lembre-se de que todas as crianças são capazes. Isso não é diferente com crianças autistas. Elas só precisam de estratégias específicas para memorizar a informação.Entenda que cada criança autista é diferente, não tente analisar seu aluno com base em outras crianças com o mesmo distúrbio, mas de acordo com o próprio desenvolvimento e aprendizagem dele.
2
Fale de maneira clara e direta. Algumas crianças autistas podem ter dificuldades para lidar com sarcasmo, trocadilhos idiomáticos e piadas. Ao conversar com elas, use e abuse de precisão e especificidade. Seja bastante literal e direto quando for pedir algo a elas.
3
Não use frases muito longas e evite sermões. Crianças autistas têm dificuldades em processar linearidade, principalmente no processo de fala. Discursos longos podem deixá-las bastante confusas.Dê as instruções por escrito se a criança já souber ler, mas se ela ainda estiver aprendendo, utilizar imagens com as instruções pode ser útil.
As lições devem ser ensinadas em passos de formiga.
4
Comunique-se com a criança usando instrumentos que o auxiliem, se necessário. Algumas crianças aprender a se comunicar através da linguagem de sinais, de imagens ou de algum dispositivo de voz. Aprenda a utilizar tais sistemas caso a criança use qualquer um deles para se comunicar.Por exemplo, você pode imprimir diferentes fotos de comida para, na hora do lanche, a criança poder apontar para o que quer.
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Use o closed caption quando usar a TV. Essa é uma medida que ajuda tanto crianças que já sabem ler, quanto as que estão em fase de alfabetização.Mesmo as que ainda não sabem ler conseguem associar os sons às palavras escritas. Além disso, muitas crianças com esse distúrbio têm dificuldades em assimilar palavras faladas, principalmente na televisão. Assim, as que sabem ler têm o apoio da legenda enquanto escutam e decifram a mensagem.
Grave o programa favorito dela com o closed caption para incorporá-lo às aulas de leitura.
Parte 2 de 4:
Estratégias para lidar com questões comportamentais e sociais
1
Simplifique o aprendizado usando os interesses do aluno. Muitas crianças autistas desenvolvem interesses especiais que podem ser utilizados como recurso durante as aulas.Por exemplo, se ela adora carros, use-os para ensinar geografia "dirigindo-os" de um estado ao outro em um mapa.
2
Ensine através de exemplos com os colegas. Crianças neurotípicas (ou seja, que não são diagnosticadas com nenhum transtorno) compreendem emoções, estímulos e outras interações sociais instintivamente, mas crianças autistas precisam que estas sejam ensinadas nitidamente.Com isso em mente, vale lembrar que elas têm sim capacidade para aprender a interagir da maneira correta. A diferença é que elas precisam que a informação seja mastigada, enquanto crianças não autistas aprendem através da observação.
Em idade pré-escolar, elas aprendem tarefas simples como diferenciar cores e letras ou responder "sim" ou "não" observando as interações entre os colegas; portanto, quando fizer trabalhos em grupo, junte uma criança neurotípica que já domina o exercício a uma criança autista que tenha dificuldades nele. Por exemplo, uma criança autista que tenha dificuldades para entender a diferença entre as cores pode ser agrupada com uma que tenha demonstrado ótimo desempenho nessa área. Observando como se faz corretamente através de um colega, sem a pressão de ser um adulto ensinando, a criança autista terá mais chances de imitar o comportamento dele e aprender com segurança.
Eis uma boa estratégia: "treinar" crianças neurotípicas entre a primeira série do ensino fundamental e o ensino médio, que tenham demonstrado uma absorção adequada do conteúdo e um desenvolvimento de condutas sociais corretas, para serem modelos às crianças autistas. Assim, os exemplos de interações sociais como fazer contato visual, cumprimentar educadamente, compartilhar ideias, etc. podem ser transmitidos e corrigidos através do ensino afetivo, com gentileza e tom de voz amigável.
3
Leia histórias para ensinar comportamentos adequados. Um bom exemplo seria uma história em que o personagem está triste e chorando; você pode apontar para as lágrimas e expressão do personagem para ajudar a criança a entender o que ele está sentindo. Ela pode prender com a memorização.Algumas crianças autistas demonstram um bom aproveitamento de histórias sociais. Elas os ajudam através de exemplos de comportamentos em diversas situações.
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Crie uma rotina estável. Para crianças autistas, é um verdadeiro desafio não saber o que vai acontecer a seguir. Ter uma rotina estável e previsível, em que a criança tenha confiança nos acontecimentos pode deixá-la mais segura e tranquila.Pendure um relógio analógico em um lugar acessível e inclua imagens das atividades diárias em seus respectivos horários. Quando chegar a hora de fazer algo (tomar banho, por exemplo) aponte para o relógio e diga a hora de fazer a atividade; no entanto, é importante lembrar que muitas crianças autistas não conseguem ler as horas nesse tipo de relógio - nesse caso, use um relógio digital no mesmo lugar.
Calendários com imagens também podem ajudar.
Parte 3 de 4:
Estratégias para lidar com problemas sensoriais
1
Delimite o espaço de aprendizado. Isso é fundamental para crianças com autismo, pois elas podem ter dificuldades com ambientes diferentes ou caóticos.Organize o espaço de ensino separando os lugares de cada tipo de material e técnica de estudo, como brinquedos, artes e fantasias.
Use sinalizações físicas para delimitar cada parte. Por exemplo, um colchonete para cada criança, fazer um quadrado com fita adesiva no chão para delinear a parte de leitura, etc.
2
Observe as estratégias de aprendizado da própria criança. Ela pode recorrer a algum objeto, comportamento ou ritual para ajudá-la na memorização e isso é diferente para cada criança.Ela precisa andar para se lembrar do alfabeto? Ler em voz alta é mais fácil se ela segurar um determinado cobertor? Seja o que for, é necessário respeitar sua estratégia pessoal.
Algumas crianças autistas usam fones para abafar sons ou cobertores pesados para se acalmar quando se sentem sobrecarregadas de estímulos. Respeite a necessidade da criança de usar tais ferramentas.
3
Aceite o stimming(movimentos estereotipados). Stimming é a palavra usada para designar os movimentos repetitivos que as pessoas com autismo fazem para se acalmar, estimular ou concentrar, como balançar para frente e para trás, bater palmas, etc.Esses movimentos são essenciais para a concentração da criança autista, além de proporcionar segurança e bem-estar.
Ensine as outras crianças a respeitarem o stimming, não é necessário tentar interrompê-lo.
Existem casos em que a criança pode morder, bater ou machucar outras pessoas como forma de estímulo. Nesses casos, o melhor é conversar seriamente com o coordenador de ensino, com os pais e especialistas para se informar sobre como controlar esse comportamento sem interromper o ritmo de aprendizado.
4
É necessário entender que determinadas reações que são estranhas para os outros têm razões para acontecer. Por exemplo, se a criança entra em pânico quando alguém tenta tocar na cabeça dela, provavelmente é porque sente dor, já que alguns autistas têm um limiar de dor muito baixo.Pode ser necessário explicar para os colegas de classe neurotípicos que o aluno com esse distúrbio não faz as coisas para que os outros achem graça e certamente não gosta do que causou a reação. Crianças autistas acabam passando por situações de assédio não intencionais, pois alunos neurotípicos não entendem do que se trata, não sabem que isso os afeta negativamente e acham essas reações fascinantes.
Parte 4 de 4:
Entendendo as melhores técnicas e a legislação
1
Entenda que toda e qualquer criança tem direito à educação, portadora de necessidades especiais ou não. No Brasil, existem diversas leis que asseguram às crianças portadoras de necessidades especiais o direito de estudar em escolas públicas regulares no ensino infantil, fundamental ou médio. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma delas.Embora essas leis sejam abrangentes em relação aos diversos tipos de necessidades especiais, sejam elas físicas ou mentais, em 2012 foi sancionada a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Essa lei foi considerada necessária por não haver nenhuma especificação na legislação até então vigente quanto à participação de alunos diagnosticados com TEA, o que abria uma brecha para a recusa de matrícula dessas crianças nas instituições públicas ou privadas de ensino.
De acordo com a legislação, todas as escolas devem ser adaptadas para alunos portadores de necessidades especiais, inclusive crianças com Transtorno do Espectro Autista. Isso significa ir além das adequações às necessidades físicas, como rampas de acesso e banheiros adaptados, mas também integrar recursos como materiais em braille, a adição do ensino de libras e técnicas específicas a esses alunos nas faculdades e universidades de pedagogia e licenciaturas.
Os alunos com TEA podem requerer um acompanhante do Atendimento Educacional Especializado (AEE) durante as aulas.
Além de um acompanhante especializado, crianças com TEA devem ter acesso a um atendimento multiprofissional, ou seja, que englobe profissionais de outras áreas, como os serviços de saúde e assistência social.
2
Respeite a privacidade de seu aluno. É obrigação do profissional de ensino respeitar a individualidade, privacidade e integridade moral de qualquer aluno, mas isso deve ser ainda mais destacado com relação a alunos com TEA, para evitar a estigmatização.Alunos portadores de necessidades especiais requerem exames, tratamentos e acompanhamento multidisciplinar descritos na ficha de matrícula e nos registros educacionais. Preserve a intimidade e a privacidade de seus alunos com TEA cuidando para que essas informações não sejam divulgadas. Isso quer dizer que disseminar o conteúdo dos registros educacionais sem a autorização dos pais ou responsáveis pode gerar um processo contra você e a instituição de ensino.
Em geral, essas informações devem ser utilizadas junto dos pais ou responsáveis e outros profissionais envolvidos no desenvolvimento da criança, incluindo a equipe da escola (profissionais da cozinha, nutricionistas, monitores, funcionários da secretaria, etc.), para que todos entendam as necessidades e peculiaridades desses alunos e saibam lidar com seu comportamento e personalidade.
Caso tenha dúvidas em relação a isso, converse com o coordenador de ensino. É uma boa ideia incluir esse assunto às reuniões de pais e professores, além de organizar oficinas de aperfeiçoamento para os instrutores da escola.
De acordo com a lei nº 12.764, um dos aspectos da inclusão de alunos com TEA é a iniciativa de políticas públicas para sua inserção na comunidade. Assim, é importante que funcionários, pais de outros alunos, colegas e equipe disciplinar estejam a par de que alguns alunos requerem atenção e cuidados especiais. Essa prática deve ser adotada para todas as categorias de atenção específica, desde a alimentação de crianças com alergia a glúten até crianças com TEA. Uma boa iniciativa seria, além de mencionar esses temas em reuniões, formar também um núcleo de ações positivas para os cuidados específicos dessas crianças. No entanto, é importante ressaltar que a identidade do aluno portador de necessidades especiais seja ocultada nessas ocasiões.
Embora pareça lógico que a divulgação do diagnóstico ajude todos a entenderem o aluno com TEA, isso fere o direito à privacidade dele e da família, além de reforçar uma possível estigmatização. Existem casos em que os próprios pais tomam a iniciativa de convocar uma reunião para informar todos os envolvidos das condições da criança. Converse com eles logo no início do ano letivo para saber como eles preferem agir em relação a isso.
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Insira o aluno com TEA ao mesmo ambiente que seus pares. Isso quer dizer que, apesar de ter necessidades específicas, ele deve ser parte integral da turma, aprender os mesmos conteúdos e ter a mesma atenção.É claro que devem ser observadas as características individuais de cada um e, dependendo delas, algumas ações podem ser necessárias (ter um acompanhante especializado, por exemplo).
Ainda assim, é importante frisar a necessidade de introduzir alunos com TEA no mesmo ambiente dos alunos neurotípicos.
As alterações do espaço físico e outras adaptações são de responsabilidade do professor junto com a coordenação pedagógica, incluindo a adoção de metodologias e técnicas de ensino específicas aos alunos com TEA, sem ignorar as necessidades dos alunos neurotípicos.
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Incorpore novas metodologias e abordagens de acordo com a individualidade do aluno. Ao fazer essas mudanças, não leve em conta somente o TEA, já que crianças autistas manifestam sintomas muito diferentes entre si; considere os aspectos de seu aluno em particular.Conheça seu aluno. O autismo é estereotipado e a tendência natural é achar que "toda criança autista é igual". Isso não poderia estar mais longe da verdade, já que essas crianças têm personalidades e características diferentes. Como professor, você deverá perceber que seu aluno com TEA tem habilidades que podem ser esquecidas ou ignoradas em função do distúrbio; avalie seu aluno diariamente, observe seu progresso e identifique onde ele tem melhor desempenho e onde precisa de mais reforço.
Conhecer as habilidades e dificuldades do aluno será útil para elaborar um plano de intervenção para momentos de necessidade. Isso tudo deve ser observado tanto na área acadêmica, quanto em habilidades sociais e comunicativas.